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Antonio Lopes - Crônica 405 - Amor Narcísico

Amar a si mesmo é fundamental para uma vida saudável, mas algumas pessoas desenvolvem pensamento de que isto é ser egoísta. Ora o ser humano por princípio é egoísta desde o nascimento, pois busca a satisfação dos seus desejos e quando não os realiza, fica desequilibrado por neuroses diversas que tanto prejudicam sua saúde, com psicossomatizações inconvenientes. É preciso se livrar dos pensamentos negativos e de julgamentos alheios, os quais tanto prejudicam a existência de uma qualidade de vida.

O censo comum diz de forma pejorativa que o indivíduo narcísico só pensa nele, que tem um excesso de apreço por si mesmo e que não se importa com os outros. Isso acontece pela incapacidade de olhar para dentro de sua própria pessoa e entender o quanto é necessário a autoestima elevada e equilibrada para uma convivência em paz com o seu universo de relacionamentos. A baixa autoestima (narcisismo fraco) é prejudicial e resulta em sofrimento da alma, prejudicando o sucesso em qualquer área de atividade, reduzindo a possibilidade de estabelecimento de amizades, desempenho social, amoroso, nos estudos e no trabalho.

No princípio do desenvolvimento o ser humano é apaixonado por si mesmo, é o centro do mundo, assemelhando-se com a mitologia grega, onde Narciso se apaixona pela sua bela imagem refletida no lago e a partir daí recusa e repele o amor da deusa Eco. Embevecido não tinha olhos nem ouvidos para mais nada, não precisava de mais ninguém e com isso seu corpo se tornou uma miragem e desfez-se na água. É comum nos narcicistas falar; “Eu me basto”!

Importante entender que sem amor próprio complicamos nossa interação com o mundo, daí que amar a si mesmo é necessário para que se possa dar amor a outros. Não precisamos pensar em ser o centro do universo, mas sim que estamos inseridos no meio de muitas diferenças e que cada um tem sua beleza e brilho pessoal, seja fisicamente, intelectualmente, com sua personalidade e participação nas atividades sociais, reconhecendo o valor de cada um.

Precisamos sim, querer a qualquer custo alcançar nossos objetivos pessoais, sem prejuízo dos outros e quando alcançamos, haverá novamente a construção de outros desejos, pois desejar é o que motiva a continuidade de uma vida interessante, que faz buscar novas realizações, assim alimentando o narcisismo adequado para o bem-estar pessoal, dizendo; Eu sou capaz e sou um cara muito legal, mas curto a humildade para compreender que nada sei, mas que posso aprender.

O desdobramento do narcisismo tem fundamental importância para a análise do mundo em que vivemos. A supervalorização da imagem e do sucesso reduz a tolerância das mínimas divergências – o que Freud chamou de narcisismo das pequenas diferenças – e acirra os conflitos, seja nas pequenas discordâncias do cotidiano ou nos grandes conflitos bélicos. Se o outro não me satisfaz, se não é espelho daquilo que almejo, se tenta opor-se às minhas vontades e ameaça minha autoestima, eu o aniquilo. O terreno é propício para preconceitos, fanatismos, violência e conflitos familiares.



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Diversos 21/06