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Antonio Lopes - Ensaio Psicanalítico Ensaio 435 - Acorrentados

Um elefante não escapa da sua prisão, embora esteja preso apenas por um pedacinho de madeira fincada no chão, onde se amarra uma corda ou uma corrente. Vejam a história de desenho animado Dumbo. Desde muito pequeno, ainda sem força, se viu incapaz de arrancar a estaca ou romper a corrente. Mesmo que tenha arduamente se esforçado, suas tentativas eram em vão, ficando na memória que uma corrente atada a uma estaca fincada no chão é impossível de ser rompida ou arrancada e, por isso, não adianta tentar, sua existência tem que ser daquele jeito mesmo, fracassado. Só poderia ficar livre quando seu dono o permitisse e segue a vida triste e ansioso, acreditando que seu destino é ficar submisso e só fazer alguma coisa quando alguém solta a corrente.

Quando liberado da corrente ele saltita de alegria, corre, se diverte, voa, faz graça com piruetas, mas logo em seguida, depois de um show, vem a tristeza e a certeza de que estará novamente prisioneiro. Nos grilhões do seu passado segue a espera de que o libertem, sem ter consciência da sua força, do que é capaz.

Algumas pessoas vivem como um elefante, presas por uma corrente de valores, conceitos, preconceitos e sentimento de impotência, que provocam a angústia de um conflito interno. Pensam que não são capazes, que não merecem, que devem viver de acordo com o que seus progenitores ou cuidadores lhe impuseram, limitando as possibilidades de alcançar a liberdade própria de ser alguém, tão importante para uma vida saudável.

Dessa forma se desenvolve uma frustração, mantendo uma dependência paternal ou maternal, que muitas vezes é substituída inconscientemente por um companheiro ou companheira na vida adulta, com um casamento formal ou uma união estável. Filhas e filhos de mães narcísicas, perversas e dominadoras, passam por situação semelhante ao Dumbo, não conseguem levantar voo em busca de suas realizações pessoais e profissionais. Como reféns, sofrem com um abalo emocional e não acreditam que podem ser diferentes. Quando realizam alguma coisa, vem o sentimento amargo de culpa e de que está fazendo errado. São falas nocivas, desqualificadoras, ameaças de castigos doloridos, colocando a pessoa num eterno estado de insegurança e incompetência, frente a qualquer oportunidade de ser assertiva e bem-sucedida.

Assim, não acreditam nas suas potencialidades, têm medo do novo, impedem seu crescimento mental, pavor do desconhecido. Na infinita espera de que alguém as liberte da corrente, tornam-se carentes e pedintes do amor que lhes falta, ficando num imenso vazio existencial. Tem necessidade de aprovação de todos e receio de rejeição, passam por cima de qualquer dor e sentimentos próprios tão somente para satisfazer as necessidades dos outros.

A nossa própria educação, o legado dos pais, uma casa ou uma cultura fazem parte dos grilhões invisíveis que nos impedem de caminhar livremente para alcançar o que realmente desejamos. As mães tóxicas mantêm os filhos aprisionados em suas correntes, sob pena de não receberem o carinho e o amor pela terrível sensação de abandono, ao ousarem descumprir as regras de submissão impostas.

Filhos de mães narcisistas só conseguem romper a corrente quando enfrentam situações de risco, quando passam por depressões severas, quando associados a questionamentos que os impulsionam a entender onde estão presos e o pedido pela vida gera uma massa crítica de consciência de que algo muito errado está acontecendo, e que a única forma de conseguir sua liberdade é, com muita força, romper a corrente que os aprisionam.



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Diversos 19/02